Khayo Ribeiro Gazeta Digital
A profissional da saúde esclareceu diversas dúvidas sobre o novo coronavírus.
Confira a entrevista completa a seguir.
Muito tem se discuto sobre retorno das aulas presenciais, sobretudo do ensino infantil. As crianças são super espalhadoras do vírus?
O que nós sabemos até então a respeitos das variantes da covid-19?
As mutações são pequenas mudanças que o vírus sofre porque ele mesmo tem como mecanismo de defesa para se ver livre do nosso sistema imune. O vírus quer que a gente esteja ali pronto para recebê-lo. A cada organismo que ele entra, ele sofre mutações. A gente acredita que o SarsCov2, que começou a pandemia lá em dezembro de 2019, quando os primeiros casos foram descritos na China já nem existam mais, porque ele já mudou muito. A primeira variante descrita foi a chamada P117, foi descrita no Reino Unido, salvo engano no dia 14 de dezembro e já foi descrita aqui no Brasil no dia 31 de dezembro já descreveram também. Depois, outra descrita foi a B1351, essa é a variante da África do Sul. E, por último, em janeiro, tem a P1, que é a variante do Amazonas. Elas têm em comum uma mutação chamada de M501Y, que é uma mutação na proteína spyke da espícula, da coroa, deste vírus, em um pedaço específico dela, chamado de RBD (do inglês, domínio do receptor de ligação). Esse RBD é um pedaço da proteína do vírus e se liga em uma área muito específica das nossas células, que é o AC2. Houve uma mutação nesse domínio do RBD fazendo com que o vírus se ligasse mais facialmente na superfície das nossas células, dando uma carga viral maior nas pessoas, que passam a transmitir mais a doença.
Sempre que uma pessoa se reinfecta é por uma variante?
Essa resposta ainda não temos. Provavelmente, sim. Mas, infelizmente, no nosso país, a gente não consegue fazer o sequenciamento genético do vírus para certificar que realmente se trata de uma variante diferente. A presença de um PCR positivo não caracteriza como reinfecção, porque o indivíduo pode ter um PCR positivo e ficar mais de 83 dias com o PCR positivo sem querer dizer que ele está infectado.
Qualquer tipo de teste verifica contágio por variante?
Não. A gente pode até suspeitar quando faz os testes, esses testes de PCR, que coleta no nariz, a gente pode suspeitar de variante, mas para ter certeza é só o sequenciamento genético.
Muito se tem veiculado sobre sequelas da covid-19 mesmo após a recuperação. O que nós sabemos até agora sobre esses efeitos?
Existe aí uma série de sequelas já descritas. A fadiga, o cansaço crônico, que já é bem descrito e é um dos mais comuns. Mas existe também as sequelas cardíacas, pulmonares, neurológicas e comportamentais. Muito ainda precisa ser estudado para que a gente consiga ter certeza de como essas sequelas se apresentam.
Doutora, como a senhora avalia a atual metodologia de vacinação em Mato Grosso?
A metodologia não é só de Mato Grosso, é do Brasil todo. Nós temos um programa nacional de imunizações que é referência para o mundo. Para um país de dimensões do nosso, nós temos estados como Mato Grosso que equivale à Espanha e Itália juntos e ainda somos maiores. Ou seja, é muito grande o nosso país. E temos esse programa com grande capilaridade, com rede de frios, com pessoas treinadas, mas não temos vacinas. Esse é o problema. Falta matéria prima, falta vacina. Então, isso faz com que a gente não consiga vacinar grande parte da vacinação para realmente poder pensar a vida um pouco mais próxima da nova normalidade.
Para a senhora, qual o atual estágio da pandemia no estado? Já podemos vislumbrar a superação da 2ª onda em breve?
Não, infelizmente ainda não. Penso que a gente ainda não superou essa segunda onda. O Ceará decretou lockdown ontem, porque realmente a situação está bastante grave e isso me deixa um pouco assustada. Não temos ainda um número de casos estáveis para a gente dizer que já superamos. Por isso, é importante que se mantenham todas aquelas recomendações, do uso frequente das máscaras, lavagem frequente das mãos com água e sabão, álcool em gel, distanciamento de pelo menos 1,5 m entre as pessoas, evitar aglomerações e, no menor sintoma, procurar o médico.