José Lucas Salvani – Foto: Rogério Florentino/Olhar Direto
“Não jogamos a culpa em todos os brasileiros e cristãos. Nós achamos que todo o preconceito que acontece contra nós e outras religiões é por causa da ignorância. Tem pessoas ignorantes. Eles não perguntam, não procuram conhecimento ou correm atrás da informação certa. (…) Tem que escutar de mim, e não escutar sobre mim. Escute a minha opinião, meu pensamento, minha doutrina, crença e fé”, pede.
Nos caso do candomblé, o babalorixá Paulo T’Osumare conta que por ser uma religião de matriz africana o preconceito surge a partir do racismo. “As religiões de matrizes africanas sempre tiveram uma pegada maior nesta situação, tanto pela religião, como também pelo povo negro. A primeira visão é essa, contra o negro, [é] a religião do negro, então nós temos essa dificuldade de aceitação pelo respeito”, explica ao Olhar Conceito.
Já Jatabairu Francisco Nunes é espírita kardecista, mas foi criado pela mãe que era médium de um terreiro de umbanda, quando ainda morava em São Paulo. A casa de sua mãe já foi até apedrejada algumas vezes.
Por ser espírita, ele já foi xingado por fiéis de outras religiões, mas já está acostumado, e afirma que muitos espíritas optam por não esclarecer sua religião ou dizer ser adepto a outra por medo do linchamento. “Temos um universo muito maior de espíritas que falam que são adeptos a outras religiões por medo do preconceito”.
Outros caminhos
Cristiano hoje se reconhece como um ateu, mas passou por algumas religiões, como o espiritismo e budismo, e estudou bastante sobre algumas delas, tanto que conclui em fevereiro mestrado em Filosofia da Religião, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e inicia em março um doutorado na mesma área. Sua família é católica praticante e tem até três padres, sendo dois primos e um tio que considera como um segundo pai. Os padres são justamente as pessoas com quem ele consegue ter um melhor diálogo sobre estas questões.
Apesar daqueles que não enxergam qualquer problema em ele ser ateu, há alguns familiares que repudiam a escolha de Cristiano. Muitos, inclusive, sequer sabem que ele é ateu e não há qualquer plano em contar porque são pessoas com quem ele não tem muita proximidade, como também não se sente obrigado.
Fotógrafa, Vitória Molina é agnóstica, que não nega ou afirma a existência de deus, e passou a se identificar como tal quando passou a estudar um pouco sobre o assunto, por volta de 2016. Os seus primeiros questionamentos começaram na adolescência, quando estudava em uma escola adventista. Ao longo do tempo, passou a não gostar da ideia e se sentia forçada a seguir a religião. “Eu passei a enxergar outras formas de ver a religião e mundo, quando entrei na faculdade, há quatro anos. Eu não acredito ser atéia (…), mas sinto que há uma energia”.
Crime há 22 anos
“Não é questão de ter informação, mas um formação que te ajude e ensine as pessoas, o cidadão, a respeitarem as escolhas dos outros independente de quais elas são”, acredita Cristiano. “Não adianta ter a informação se eu não sou ensinado e não tenho uma educação moral e adequada para entender e respeitar as diferenças. Isso vale para a religião e para qualquer outra coisa, como orientação sexual, questões de gênero e raça”.